Por uma inclusão acessível - Parte 1

Leia aqui a primeira parte de nossas matérias que falam sobre Acessibilidade Digital, o tema da primeira reportagem é idosos.

Confira a cobertura de nossa visita ao Pirambu Digital

A Liga Experimental à visita a cooperativa Pirambu Digital. Confira como foi essa experiência.

Consciência Seletiva

O que realmente acontece? As pessoas estão realizando a coleta seletiva? O governo possui alguma obrigação relacionada a separação de resíduos? E quais são projeto de Fortaleza que participam da causa?

A ação Palavras de Liberdade!

Conheça mais sobre a ação Palavras de Liberdade, desenvolvida pela Liga Experimental de Comunicação.

Archive for maio 2011

LIGA realiza o I Ciclo de Debates do Palavras de Liberdade

A temática abordada foi Juventude e Comunicação. Convidados da mesa salientaram o papel de sujeito político adotado pelos jovens atualmente.









Aconteceu ontem (20 de maio), no Auditório José Albano, do Centro de Humanidades da UFC, o I Ciclo de Debates da ação Palavras de Liberdade: a comunicação na efetivação dos direitos, promovido pela LIGA Experimental de Comunicação.

O tema em pauta foi Juventude e Comunicação. O debate contou com a mediação do professor do curso de Comunicação Social da UFC, Edgard Patrício, além de três outros profissionais convidados para a composição da mesa: a jornalista e educomunicadora da revista Viração, de São Paulo, Vânia Aparecida, a  também professora do curso de Comunicação Social da UFC, Deisimer Gorczevski, e o comunicador e co-fundador da TV Janela, Valdenor Moura. Os nomes representavam Mídia, Academia e Sociedade Civil, respectivamente.

Iniciando as atividades do debate, Vânia falou sobre Políticas públicas de comunicação para a juventude. Ela destacou a importância da criação de espaços para que a os jovens produzam e veiculem informações, já que a real efetivação do direito à Comunicação não consiste somente no simples acesso ao conteúdo. 

A visão estigmatizada dos jovens feita pela mídia e o fato de a Comunicação não ser uma pauta consolidada nas discussões sobre juventude no Brasil ainda hoje, foram pontos criticados pela jornalista, que também associou o tema Juventude e Comunicação à internet, que atua como um meio de livre expressão. "O acesso à internet é fundamental ao jovem, sendo um espaço de sociabilidade e de informação", afirmou. 

Vânia concluiu a fala expondo os problemas que mais afetam os jovens atualmente. "Algumas das marcas da juventude contemporânea são o desemprego, o medo de morrer e o medo de estar desconectado".

Deisimer, em sua fala envolvendo Cartografia da recepção e do consumo midiático de jovens comunicadores comunitários, chamou atenção para a mudança que ocorre na visão da própria Academia acerca da juventude. "Os jovens estão deixando de ser vistos somente como ‘objetos’ de pesquisa e demandantes de ações, para serem encarados como autores das mesmas”, diz a professora. Em outras palavras: tornando-se jovens que produzem.

Analisou, também, os aspectos sobre a imagem do jovem que é construída pela mídia, falando inclusive do conceito da professora Glória Diógenes - "Estética Juvenil Globalizada" (jovem branco, loiro, sarado, etc.) -, para, então, situar que “o jovem diferente desse padrão estético aparece, na mídia, na maioria das vezes, ou como algoz ou como vítima de situações ligadas às múltiplas dimensões da violência e da criminalidade”.

Associando a juventude não só à grande mídia, mas também à Comunicação Comunitária, Deisimer acrescentou o fato de que o modo pelo qual a mídia comercial vitimiza a juventude também ocorre, muitas vezes, nas mídias alternativas, que também se utilizam dessa imagem, “reproduzindo” o que criticam.

Para finalizar o momento de exposição de fala de cada um dos debatedores, a palavra foi passada ao coordenador da TV Janela, Valdenor Moura, que priorizou discorrer sobre Participação comunitária na produção da comunicação da juventude.

Mostrando a relação existente entre o projeto do qual é representante e o Planalto Ayrton Senna, onde se localiza a TV Janela, o comunicador comentou a importância que o projeto tem nas questões que envolvem a juventude do próprio bairro: "O espaço foi criado para que os jovens possam se expressar através do audiovisual, para que eles possam criar uma linguagem própria".

Após as falas dos três convidados, o espaço do debate foi aberto para perguntas da plateia. 

Encerrados os blocos de perguntas, cada um dos debatedores fez suas considerações finais. Em meio aos agradecimentos, eles convidaram a todos para que a discussão que envolve Juventude e Comunicação não parasse naquele momento, pois o tema é relevante e merece acompanhamento na luta por mudanças na prática.

William Santos

Como chegar - Auditório José Albano

Elaboramos um mapa para facilitar a localização Auditório José Albano. Contamos com a presença de vocês no nosso primeiro ciclo de debates!

Programação:

  • 17h - Lançamento da Ação Palavras de Liberdade
  • 18h - Início do debate sobre Juventude e Comunicação


Entrevista com Vânia Correia - TV Janela


O blog do Palavras de Liberdade realizou uma entrevista com a jornalista e educomunicadora de São Paulo Vânia Aparecida Correia, 27. Ela é uma das responsáveis pela ONG Viração. O projeto, que já tem oito anos de existência, realiza trabalhos em São Paulo e no Brasil. A jornalista começou a contribuir com a ONG quando ainda era estudante de Comunicação e, logo após formar-se, continuou trabalhando no projeto. Além disso, Vânia relata que sempre esteve presente nela o desejo de trabalhar com Educomunicação e com Juventude.
A relação de Vânia com a Comunicação sempre rumou no sentido contrário ao da Grande Mídia, pois sempre defendeu a democratização dos meios de Comunicação. Foi esse interesse na Comunicação como meio de proliferação de ideais sociais que a levou à Viração. Um dos pontos ressaltados por nossa entrevistada Vânia fala ainda sobre o que a própria ONG gosta de chamar “carro-chefe”: A revista Viração. A publicação possui cerca de onze mil assinaturas distribuídas em diversas bibliotecas públicas do Brasil. Outro ponto destacado pela educomunicadora é a realização do 2º Congresso Nacional de Juventude, onde
serão discutidas políticas públicas para o jovem no Brasil.
No próximo dia 20, Vânia estará presente na UFC para participar do ciclo sobre JUVENTUDE E COMUNICAÇÃO, primeiro da série de cinco ciclos da ação PALAVRAS DE LIBERDADE.


Entrevista: João Marcelo Sena
Edição: Mariana Freire


João Marcelo Sena: Vânia, eu gostaria de começar perguntando a respeito do projeto Viração. Fale um pouco sobre o surgimento e qual a proposta da revista?
Vânia Correia: A Viração surgiu em 2003. O fundador e idealizador do projeto foi o Paulo Lima. A idéia inicial era fazer uma revista para o publico jovem produzida também por jovens, dando espaço para que a juventude pudesse também falar das suas pautas do jeito que ela quer e sobre ela mesma e do jeito que ela se vê. É isso que ela tem de mais inovador, todas as revistas que a gente tinha, pelo menos na época, para o segmento juvenil eram produzidas por pessoas adultas, destinadas para o público jovem, mas que eram profissionais. A Viração avança no sentido de dar voz para o próprio jovem falar de si mesmo, seja ele profissional ou não da Comunicação.


JMS: E como você começou o trabalho na Viração? O que despertou em você como profissional jornalista?
VC: Eu estou na Viração há dois anos e meio, e antes de entrar na faculdade de Comunicação eu já conhecia o projeto. E sempre gostei muito, justamente por achar que era um projeto inovador. A minha militância no meio social sempre foi vinculada à juventude, e quando eu comecei a estudar Comunicação eu quis que essas duas áreas se encontrassem. Desde a faculdade o meu desejo era trabalhar com mídia alternativa pela democratização dosmeios de comunicação. Eu entrei aqui fazendo estágio em Jornalismo com um projeto de
Educomunicação. Daí, fui descobrindo que a Viração era muito mais que a revista, que ela na verdade é o resultado de todo um processo educomunicativo. Eu fui cada vez me apaixonando mais.


“A minha militância no meio social sempre foi vinculada à juventude, e quando eu comecei aestudar Comunicação eu quis que essas duas áreas se encontrassem.”


JMS: Gostaria que você contasse um pouco de suas experiências e do trabalho com jovens, tendo em vista que a Viração está presente em muitos estados do país.
VC: A Viração está presente em 22 estados, mais o Distrito Federal. Nesses estados temos os conselhos Virajovem, que são adolescentes e jovens que se organizam, pensam pautas, discutem Comunicação e também produzem material para a revista. Além disso, eles participam de agências jovens de notícias pelo Brasil todo. Um dos momentos mais fortes da revista e dos conselhos do país todo foi a 1ª Conferência Nacional de Juventude. Lá aconteceu o Encontro Nacional dos Conselhos Virajovem, onde eles se encontraram, conversaram também sobre a Viração, sobre a constituição deles como rede e eles puderam montar uma agência nacional de notícias. Acho que esses espaços que eles têm de Agência Jovem de Notícia e os Encontros Nacionais que a gente tem anualmente são os momentos mais ricos e de muita troca de
experiência. São jovens que vivem experiências muito diversas, que têm condições de vida muito diferentes, mas que têm o desejo transversal de se comunicar e de falar das coisas que eles tão fazendo, as coisas que eles tão dizendo e poder dar visibilidade pra isso por meio da produção de Comunicação.


JMS: Foi aprovada recentemente a realização da 2ª Conferência de Juventude. Gostaria que você falasse um pouco do papel da Viração nessa Conferência, ressaltando a importância dessa conferência. 
VC: Acho a segunda conferência fundamental. Os movimentos juvenis brigaram e insistiram bastante na importância de se realizar a segunda conferência porque a primeira tinha como lema “Levante a sua Bandeira”, então foi um momento em que a pauta da juventude ainda era muito incipiente no país. Foi nesse momento que os movimentos organizados Brasil afora levantaram e disseram o que a juventude estava entendendo como direito dela e o que ela estava pautando como demanda para as políticas públicas. A gente teve uns dois ou três anos para que fossem implementadas algumas das prioridades que foram tiradas dessa primeira Conferência. A segunda conferência tem um papel importante de avançar na consolidação de
uma Política Nacional de Juventude, tem um papel primeiro de avaliar o que o Brasil avançou da primeira conferência pra cá em termos das políticas públicas de juventude. Um segundo ponto muito importante dessa segunda conferência é a proposta de avançar nos marcos legais também, no Plano Nacional de Juventude e no Estatuto [da Criança e do Adolescente]. E aí de fato o Brasil caminhar pra uma consolidação de uma política de juventude que seja uma política de Estado, independente de Governo. Eu acho que a 2ª
Conferência da Juventude vem com esse papel muito forte de avaliar o que a gente caminhou, entender pra onde a gente precisa ir e de lançar perspectivas das demandas para um ato legal de juventude no País. A Comunicação foi um tema que surgiu muito pouco na primeira conferência: das 22 prioridades tiradas, nenhuma se relacionava à Comunicação. O debate de Comunicação como um direito humano é um debate que está se fortalecendo no Brasil de uns anos pra cá. A gente tem esse papel importante de pautar
politicamente o direito humano a comunicação, de incentivo, de financiamento, a produção juvenil de comunicação, de marcos legais também na área da comunicação, entendendo que a Comunicação também é um espaço para que a juventude levante as suas demandas, e também para que ela conquiste direitos, dê visibilidades para suas bandeiras. E outro fator importante que a gente quer contribuir também é com a cobertura nacional desse evento para que as pessoas saibam durante todo o processo da Conferência o quê está acontecendo nos estados para que seja um elemento mobilizador e informativo para a juventude do Brasil. 


“A gente vê adolescentes e jovens usando e se apropriando de metodologias de Comunicação,de Educomunicação para mobilizar suas comunidades, para articular pessoas em torno dadefesa dos direitos.”


JMS: Quais são os projetos já realizados pela Viração e quais são os projetos futuros da ONG?
VC: O principal projeto da Viração, nosso carro-chefe, é a revista, porque ela sistematiza um pouco todo o processo educomunicativo que a gente vive. Um grande feito que a gente teve esse ano é que a gente foi aprovado em um edital do MEC de publicações e a gente tem 11.000 assinaturas dela que vão pra todos os pontos de cultura e bibliotecas públicas do país. A gente tem um potencial de leitores muito grande, então a gente continua investindo muita energia para transformá-la cada vez mais num espaço legitimo em que o jovem se sinta contemplado e que ele goste da revista. Outro projeto nosso é a Agência Jovem de Notícias
que tem um portal que entrará no ar dentro de alguns dias,. A ideia é que esse portal seja totalmente colaborativo, onde os jovens do Brasil todo vão poder enviar notícias, postar e se informar sobre o que acontece relacionado à juventude no Brasil e no Mundo. A gente tem alguns projetos que são mais pontuais que acontecem somente em São Paulo. Um deles é uma parceria com o UNICEF: a Plataforma de Centros Urbanos, onde a gente dá formação em Educomunicação e Comunicação Comunitária para cerca de cem
adolescentes de diversas comunidades populares de São Paulo. Outro projeto temos é em parceria com a UNESCO: o Programa Segurança Humana, que é um programa realizado por várias agências da ONU no Brasil e acontece na região Leste de São Paulo. Lá também a gente aplica formação Educomunicativa em ferramentas e mídias para adolescentes de mais de 30 escolas municipais, para que eles também usem essas ferramentas para dar visibilidade para o tema de educação preventiva em sexualidade, que é o principal tema do programa. A gente tem também o “Quarto Mundo na TV” que é um programa de TV que vai ao ar no canal da TV USP, em rede nacional. Ele ganhou no ano passado o prêmio de melhor programa de TV
universitária, sendo tudo feito por adolescentes e jovens. Eles aprendem todo o processo de produção dos programas de TV: eles entendem, participam, entrevistam, criam a pauta. É um programa totalmente produzido por jovens com a assessoria da Viração e da TV USP. Há o projeto “Pira na Notícia”, dentre outros projetos com assessorias pontuais em Educomunicação em São Paulo. Para 2011, o que a gente espera é fortalecer cada vez mais a pauta da Juventude e Comunicação no Brasil e continuar dando visibilidade para o debate da juventude e da adolescência, construindo cada vez mais espaços ara que a juventude possa produzir e possa dar espaço para que ela fale e levante suas bandeiras. A gente também está num momento de aumentar a participação da Viração no mundo, porque existem alguns pontos de articulação na Europa e na África. De repente vamos pensar como a gente articula adolescentes e jovens
que estão pelo mundo fazendo coisas legais também, como que a gente dá visibilidade para isso e faz essa articulação.


JMS: Para encerrar, qual sua opinião a respeito da importância do trabalho com Educomunicação e Mobilização Social?
VC: A partir do que eu tenho experimentado aqui na Viração, isso é fundamental porque primeiro a gente tem a oportunidade, na Educomunicação, de construção muito mais coletiva, muito mais humana, muito mais participativa e também a possibilidade de produzir materiais e construir metodologias para fortalecer a luta social. A gente vê adolescentes e jovens usando e se apropriando de metodologias de Comunicação, de Educomunicação para mobilizar suas comunidades, para articular pessoas em torno da defesa dos direitos. Eu acho que são duas coisas que se casam muito bem. A gente acha que o movimento dos Virajovens pelo Brasil tem provado isso. Além disso, há a importância de, por meio da Educomunicação, despertar uma leitura crítica dos meios de comunicação. A partir do momento que o jovem pode começar a questionar
aquilo que ele vê, da imagem dele próprio que é reproduzida nos meios de comunicação, acho que também pode despertar o desejo dele de produzir alguma coisa diferente. É um reconhecimento da Comunicação também enquanto um direito, não só o direito de receber informações, mas também como o de produzir e difundir informações. Acho que a toda prática da Viração tem provado que a Educomunicação é uma ferramenta, um processo muito importante para mobilização juvenil, no nosso caso especifico da juventude e da adolescência no Brasil.
Jovens da Revista Viração entrevistam a cineasta Lais Bodazky

Entrevista com Valdenor Moura (TV Janela)

Valdenor Xavier de Moura sempre teve afinidade com a comunicação. O coordenador da TV Janela teve suas primeiras experiências com atividades comunicativas através dos movimentos da Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Mombaça. Ele conta que a coordenar os movimentos da igreja, como a Pastoral da Juventude, falar em público e ler durante as missas, ajudaram-no a se interessar pela área.
Antes da TV Janela, Valdenor participou de outras instituições e ONGs de Fortaleza. Mesmo não ter cursado Comunicação Social, trabalhou durante muitos anos com Audiovisual. Em 2003, ele e um grupo de amigos tiveram a ideia de criar a TV Janela: uma TV comunitária que tem como objetivo possibilitar aos jovens do Planalto Ayrton Senna experiências com o Jornalismo de rua, com o audiovisual e com outras técnicas comunicacionais. Muitas vezes a experiência na TV Janela os ajura a ingressar na área efetivamente.
Através de suas matérias, muitas mudanças aconteceram no bairro, que hoje é visto de uma forma melhor. O projeto mudou a vida de muitos jovens que não tinham perspectivas dentro da comunidade. Nessa entrevista, Valdenor nos conta tudo sobre o trabalho com Juventude e Comunicação que revolucionou o Planalto Ayrton Senna.


Integrantes da Liga Experimental de Comunicação e Valdenor Moura




Bárbara: Como era a sua vida profissional antes da TV Janela?
Valdenor: Eu trabalho na área do audiovisual desde 1990, o meu histórico nessa área vem de antes de atuar na TV Janela. Já participei de outras instituições aqui em Fortaleza. Eu posso dizer que nasci no Instituto Nosso Chão, que foi a primeira ONG que trabalhou com audiovisual em Fortaleza. Passei pelo Instituto Dragão do Mar e logo depois também pela Casa Amarela Eusélio Oliveira, onde trabalhei bastante tempo, no Cine Ceará e também participei de projetos sociais em outras instituições aqui em Fortaleza, no Encine, no Megafone durante muito tempo, no Integrasol, que é outra instituição grande aqui da comunidade. Eu tenho uma ligação muito forte com o 3º setor.


William: Valdenor, conta um pouco pra gente como começou o projeto. De onde surgiu, de quem foi a ideia?
Valdenor: O projeto foi fundado em em 5 de maio de 1999 como Instituto de Desenvolvimento Social e a TV janela é um projeto dessa instituição. A gente tinha o intuito de trabalhar o desenvolvimento social da comunidade, trabalhando com juventude numa perspectiva de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Em 2002 a gente começou um projeto muito interessante, um projeto de fotografia que começou de forma muito precária. Então o Jânio Cerqueira começou a dar aula de audiovisual, os meninos começaram a se empolgar e a gente fez uma exposição. O nosso bairro foi muito estigmatizado por conta do que ficou conhecido
como Chacina do Pantanal. Então os jovens aqui naquela época tinham a preocupação de colocar pra fora a boa imagem que também existe dentro da comunidade. Aqui continua tendo o que toda comunidade tem, são crimes, problemas sociais, mas também há cidadãos de bem e coisas boas de uma comunidade. Depois disso, a gente fez um projeto chamado "Multiplicadores da Imagem" que culminou com a produção de alguns vídeos e a gente sentia a necessidade de passar esses vídeos em algum lugar. Foi aí que surgiu o nome TV
Janela. A partir 2003 a TV começou a ser exibida ininterruptamente na segunda metade do ano e aí nós começamos a fazer uma programação, uma grade pra essa tv pra exibir nos meios das ruas da comunidade, e foi surgindo o que a gente começou a chamar de quadros. Ao longo do tempo a gente foi se aperfeiçoando também.


Então os jovens aqui naquela época tinham a preocupação de colocar pra fora a boa imagem que também existe dentro da comunidade. Aqui continua tendo o que toda comunidade tem, são crimes, problemas sociais, mas também há cidadãos de bem e coisas boas de uma comunidade.


Roberta: Valdenor, de quem foi a ideia inicial mesmo, o nome... você, inclusive, foi um dos precursores do projeto, não é?
Valdenor: A gente foi conversando e surgiu esse nome. Surgiu entre eu e o Ivo Souza, que veio do Instituto Nosso Chão. Nós dois fomos trabalhando com todo mundo e esse nome foi surgindo: TV Janela.


William: Como é feita a escolha dos locais onde são feitos os programas? Vocês sempre variam os locais de exibição pela comunidade? 


Valdenor: A gente procura os pontos de mais movimento da comunidade. Naquela época que houve a fundação, a gente começou a fazer uma programação quinzenal de exibição, mas não funcionou muito bem a porque a qualidade não ia sair muito boa. A média de exibição que ficou foi de 2 em 2 meses, para melhor se produzir pra ter uma qualidade mais aceitável. Ao longo do tempo fizemos uma experimentação de como as coisas iam funcionando aqui dentro. Foi quando a gente criou a história dos 4 Ps pra todo mundo entender como funciona a TV Janela: o primeiro P é a pré-produção; o segundo P é a produção; o terceiro P é a pós-
produção; e o quarto P é a projeção. A exibição da tv janela não é só nas ruas da comunidade, só aqui, mas ela já extrapolou essa esfera. Ela já está na internet, na escola, pessoas já estão exibindo em trabalhos colégios, baixando na internet. 


Roberta: Qual é o público da TV Janela?
Valdenor: O projeto se destina a adolescentes e jovens em que a gente trabalha a capacitação na área do audiovisual e da informática para que eles comecem a produzir. 


William: Valdenor, no início, como foi a receptividade, por parte dos moradores, do projeto TV Janela?
Valdenor: Foi uma receptividade até que nos impressionou, porque quando a gente começou a exibir, as pessoas começaram a se ver.De todas as exibições que nós fizemos, nós sempre procuramos colocar coisas positivas da comunidade. Eu acho que isso faz com que as pessoas se sintam atraídas pela coisa. É é tanto que quando começa a demorar a exibição o pessoal começa a cobrar. A gente percebe que realmente faz parte da programação local. 


Bárbara: Quais mudanças são vistas desde 2003, quando começou o projeto aqui no bairro? 
Valdenor: Olha, a gente começou sem pretensão de reivindicar nada. Quando a gente começou, a gente não tinha essa idéia de que a TV Janela fosse um veiculo de ligação entre as autoridades e a comunidade, mas ela se tornou isso ao longo do tempo. O objetivo da gente é fazer a crítica das necessidades, das reivindicações da comunidade, e esse benefício, quando ele vem, a gente quer mostrar também, porque é importante verificar que é uma conquista da comunidade.


O objetivo da gente é fazer a crítica das necessidades, das reivindicações da comunidade, e esse benefício, quando ele vem, a gente quer mostrar também, porque é importante verificar que é uma conquista da comunidade.


Roberta: A gente gostaria de saber um pouco dessa dinâmica das oficinas...
Valdenor: A gente foi aprendendo aos poucos, com a prática. De início, a gente começou com oficinas em que a gente tentava dar um pouco de teoria do audiovisual, depois a gente foi mudando isso, e puxando mais pro lado da prática, e isso funcionou. A formação básica é de seis meses. Depois desse período, eles começam a participar das produções da TV Janela, no Jornal Janela. As oficinas que abordam desde o que é a TV Janela, como é que funciona, até oficinas de câmera de vídeo, edição não-linear, a questão da prática de trabalhar o som, a entrevista, o texto, voltado um pouquinho pro Jornalismo, que a gente chama de
Jornalismo Comunitário, sem muita pretensão de querer ser uma Universidade, A gente faz isso no sentido de motivar os meninos, não com o intuito de que eles vão ser jornalistas, sem essa obrigatoriedade.


William: Como acontece a oficina de cidadania?
Valdenor: No começo, eram abordados temas do cotidiano da juventude. Depois observamos que poderíamos abordar essa cidadania nos temas que a gente ia fazer as matérias, e ir atrás da reivindicação da comunidade. Como as exibições são temáticas, a gente procura sempre temas que envolvam essa cidadania, pra que o jovem possa se envolver. Mas como a entidade ela também é de assistência social, a gente não deixa de abordar cidadania com palestras. 


Bárbara: Na escolha profissional dos jovens que participam, como você acha que a TV Janela
atua?
Valdenor: A gente tenta mostrar para eles a importância dessa área, que é uma área muito importante, mas às vezes eles têm muitas dificuldades. E até mais empregos em outras áreas. E a gente não vai também forçar esse adolescente/jovem a seguir a área do audiovisual. A gente quer que ele leve daqui o aprendizado que ele teve, pode ser em qualquer outra área da vida. Isso é o que eu acho que é importante: essa forma de pensar,
de se relacionar, de trabalhar em equipe pra que eles se valorizarem como pessoas. As experiências os ajudam na questão de relacionamentos, da oralidade, e do texto também. 


William: Valdenor, atualmente, quantos jovens sfazem parte da TV Janela?
Valdenor: Nós temos vinte jovens que são contemplados. Como a capacitação é na média de seis meses a um ano, a média anual dá uns quarenta jovens. Mas esse número pode variar também, porque vai depender do desenvolvimento de cada jovem.


William: Na sua opinião, qual o papel da mídia quando nós nos referimos à cidadania e ao protagonismo juvenil?
Valdenor – Eu acho que o papel da mídia tem que ser o de acrescentar algo bom na vida das pessoas. Esse é o grande papel. Acrescentando isso, com certeza essas pessoas vão ser melhores, propagar as coisas boas.

Juventude e Participação Política


Politeencamente corretos

Reportagem: Roberta Souza e William Santos


“Se a passagem aumentar, Fortaleza vai parar!”. Esse era o grito de guerra dos estudantes nos atos de protesto realizados em março de 2011 contra o aumento da passagem do transporte coletivo em Fortaleza. E a luta não se resume apenas a passagens mais acessíveis: eles buscam o passe livre estudantil.
Os atos contra o aumento da passagem ilustram um tema bastante pautado nacional e internacionalmente nos dias atuais: a participação política dos jovens. Mais que isso: vêm para mostrar o poder de transformação de uma geração que, aos olhos do senso comum, é desinteressada por política, apática e alienada, que não passa de marionete nas mãos da mídia e dos grandes detentores do capital.
Os jovens de hoje mostram que são tão organizados e mobilizados quanto seus pais, que foram às ruas nos anos da ditadura. Mas, como tudo que se modificou ao longo do tempo, a juventude de hoje também tem outros meios de se mostrar presente nas questões políticas. As redes sociais são exemplos das novas ferramentas e estão sendo importantes para as revoluções que contagiaram o norte da África.
                                                                                                         
O começo de uma parceria
Ivo Braga, 21 anos de idade e militância estudantil  
É muitas vezes nos grêmios escolares que os jovens dão seus primeiros passos em direção à política, instrumento que dá voz aos seus anseios sociais. A partir daí estruturam-se os diversos órgãos de apoio às causas estudantis, como a UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), a UNE (União Nacional dos Estudantes) e demais ramificações.
O vice-presidente regional da UNE no Ceará, Ivo Braga, 21 anos, estudante de Jornalismo da UFC, destaca as principais linhas de atuação da UNE como entidade máxima de representação dos estudantes universitários do país. “Lutamos pela reforma universitária, que pretende construir um novo modelo para o Ensino Superior, com predominância do ensino público e gratuito, com oferta ampla de vagas e garantia da qualidade”.
 Ivo explica a pauta atual do movimento, que diz respeito ao Plano Nacional de Educação (PNE), plano governamental que será o princípio norteador da educação nos próximos dez anos, no qual o foco principal é o ensino básico. “Queremos que o governo destine 10% do PIB e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação brasileira. A proposta chegou a ser aprovada no Congresso Nacional, em 2010, mas sofreu veto presidencial”. Os representantes da UNE, no entanto, ainda acreditam que o veto seja reconsiderado, já que a presidente Dilma Rousseff demonstrou simpatia à ideia.
Ivo também esclarece sobre as ações da UNE no estado do Ceará. “Nossa maior preocupação são as universidades estaduais que não têm tanta atenção como a Federal. Também lutamos pela democratização do transporte, principalmente para estudantes de fronteiras intermunicipais, que também devem ter direito a meia-passagem”.
Segundo Ivo, as últimas manifestações na cidade contra o aumento da passagem não ganharam repercussão por um motivo que ele considera básico. “Os estudantes pecaram pela falta de unidade e maturidade”.
Assim como a UNE, a UBES tem desenvolvido iniciativas, como a aprovação do Fundeb, o novo fundo de financiamento da Educação Básica, o passe estudantil, a reserva de vagas para escolas públicas nas universidades federais e a criação do Conselho Nacional de Juventude.

“Quando se entende a importância do movimento político do jovem na história do país, não se consegue parar”

Ainda assim, verifica-se grande participação da juventude nas universidades, que abrem várias portas de acesso aos movimentos estudantis, tais como: a UEE (União Estadual dos Estudantes), os DCE (Diretórios Centrais dos Estudantes) e os CA’s (Centros Acadêmicos).  Essas são organizações que fortalecem a integração dos estudantes, em relação à defesa de seus interesses e a superação de vários desafios da educação brasileira.
Há também as executivas, entidades específicas de representação dos cursos superiores existentes no país. Elas se preocupam em discutir os problemas que envolvem diretamente os setores que representam, bem como o mercado de trabalho e o exercício da profissão.
Ivo destaca também as contribuições feitas pela UNE no cenário histórico brasileiro. “Participamos da campanha ‘O Petróleo é Nosso’, lutamos na campanha ‘Fora Collor’, incentivamos o voto a partir dos 16 anos na Constituição de 1988, resistimos ao sucateamento das universidades no governo FHC e continuamos reivindicando a maior participação do voto do estudante dentro da universidade, através da Greve da 1/3”.

Respirando outros ares
Sarah: a influência familiar e a luta pelos direitos femininos
A participação política do jovem pode ser observada além dos movimentos estudantis. A estudante de Jornalismo da UFC, Sarah Maria Cavalcante Rodrigues, 22 anos, é membro da União da Juventude Socialista (UJS) desde 2009, e atua como diretora de comunicação da UJS Fortaleza e coordenadora do núcleo na UFC.
 “De certa forma, minha família exerceu influência nos primeiros passos da minha participação política”, conta Sarah. Filha de pai sindicalista, com sua mãe sempre ativa em grupos religiosos e seu irmão integrante de movimentos estudantis, Sarah teve o apoio familiar para ingressar nos movimentos políticos. “Foi na universidade, quando observei os problemas de democracia estudantil, que despertei para a necessidade de organização pessoal e coletiva”, afirma.

“Participar de movimentos políticos desperta as pessoas para observarem melhor a sociedade. Tornei-me uma pessoa mais humanista, desenvolvi um olhar crítico, humanizado”

Além da UJS, Sarah integra também a União Brasileira de Mulheres (UBM), onde são travados debates de apoio ao público feminino, e se declara como uma jovem feminista emancipacionista. “Lugar de mulher é em todo lugar e não mais, apenas, nos lugares reservados pelo machismo, pelo racismo, pela homofobia. Essa luta é de mulheres e homens. Sempre temos que reafirmar a luta pelo lugar da mulher na sociedade. Propagar o machismo e a submissão feminina dificulta a emancipação das mulheres”.
Outro exemplo de atuação da juventude política no Ceará é o Instituto de Juventude Contemporânea (IJC), uma sociedade civil sem fins lucrativos, de caráter filantrópico. O objetivo do IJC é desenvolver práticas político-sociais, visando o protagonismo juvenil e possibilitando a integração social dos jovens na sociedade, através do exercício efetivo da plena cidadania.

Experiências que vêm para o bem
“Quando se entende a importância do movimento político do jovem na história do país, não se consegue parar”, revela Ivo.Para Sarah, a sua participação política enquanto jovem é uma grande experiência. “Participar de movimentos políticos desperta as pessoas para observarem melhor a sociedade. Tornei-me uma pessoa mais humanista, desenvolvi um olhar crítico, humanizado”.


SAIBA MAIS:

Inscrições abertas para o I Debate Palavras de Liberdade - Juventude e Comunicação



Faça a sua inscrição para o debate sobre Juventude e Comunicação, no dia 20 de maio de 2011, às 18:00hs. O debate contará com as participações de Vânia Aparecida Correia, Educomunicadora da revista Viração; Deisimer Gorczevski, professora de Comunicação Social da UFC; e Valdenor Moura, coordenador da TV Janela (Bairro Planalto Ayrton Senna). (Confira, em breve, entrevistas com os três perfis).


Acesse o link abaixo e inscreva-se.


https://spreadsheets.google.com/embeddedform?formkey=dGxsekhja2x1MXlOMHhnLURDaklIWXc6MQ

Uma pipa começa a voar...

E ela está pronta pra ir em busca de novos céus, de novos lugares para desbravar. Ela quer que todos vejam as suas cores, quer que todos sintam o prazer do seu voo livre.
Não há metáfora melhor para descrever a nova aventura da Liga Experimental de Comunicação. A ação Palavras de Liberdade é diferente de tudo o que a Liga já fez. De semelhanças, só a vontade de trazer discussões sociais para um debate que vá além do lugar-comum. É nesse sentido que trabalhamos na ação Palavras de Liberdade: A comunicação na efetivação de direitos.
Através de cinco temáticas de grande relevância na sociedade, pretendemos discutir como fazer uma Comunicação Social, que respeite os direitos e atenda às necessidades de cada indivíduo. Vamos debater como a Comunicação pode contribuir para a garantia dos direitos humanos através das perspectivas da Juventude, da Diversidade, do Meio Ambiente, da Violência e da Inclusão Digital.
E a principal ferramenta para a construção do nosso projeto não poderia ser outra: a palavra. O diálogo com diferentes pessoas, cada qual com suas ideias são o princípio norteador de todas as nossas ações.
E é esse voo ousado que a Liga Experiental vai alçar em 2011. Todo indivíduo é livre para falar o que quiser! Então vamos dar vazão à Palavras de Liberdade!