Entrevista com Valdenor Moura (TV Janela)

Valdenor Xavier de Moura sempre teve afinidade com a comunicação. O coordenador da TV Janela teve suas primeiras experiências com atividades comunicativas através dos movimentos da Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Mombaça. Ele conta que a coordenar os movimentos da igreja, como a Pastoral da Juventude, falar em público e ler durante as missas, ajudaram-no a se interessar pela área.
Antes da TV Janela, Valdenor participou de outras instituições e ONGs de Fortaleza. Mesmo não ter cursado Comunicação Social, trabalhou durante muitos anos com Audiovisual. Em 2003, ele e um grupo de amigos tiveram a ideia de criar a TV Janela: uma TV comunitária que tem como objetivo possibilitar aos jovens do Planalto Ayrton Senna experiências com o Jornalismo de rua, com o audiovisual e com outras técnicas comunicacionais. Muitas vezes a experiência na TV Janela os ajura a ingressar na área efetivamente.
Através de suas matérias, muitas mudanças aconteceram no bairro, que hoje é visto de uma forma melhor. O projeto mudou a vida de muitos jovens que não tinham perspectivas dentro da comunidade. Nessa entrevista, Valdenor nos conta tudo sobre o trabalho com Juventude e Comunicação que revolucionou o Planalto Ayrton Senna.


Integrantes da Liga Experimental de Comunicação e Valdenor Moura




Bárbara: Como era a sua vida profissional antes da TV Janela?
Valdenor: Eu trabalho na área do audiovisual desde 1990, o meu histórico nessa área vem de antes de atuar na TV Janela. Já participei de outras instituições aqui em Fortaleza. Eu posso dizer que nasci no Instituto Nosso Chão, que foi a primeira ONG que trabalhou com audiovisual em Fortaleza. Passei pelo Instituto Dragão do Mar e logo depois também pela Casa Amarela Eusélio Oliveira, onde trabalhei bastante tempo, no Cine Ceará e também participei de projetos sociais em outras instituições aqui em Fortaleza, no Encine, no Megafone durante muito tempo, no Integrasol, que é outra instituição grande aqui da comunidade. Eu tenho uma ligação muito forte com o 3º setor.


William: Valdenor, conta um pouco pra gente como começou o projeto. De onde surgiu, de quem foi a ideia?
Valdenor: O projeto foi fundado em em 5 de maio de 1999 como Instituto de Desenvolvimento Social e a TV janela é um projeto dessa instituição. A gente tinha o intuito de trabalhar o desenvolvimento social da comunidade, trabalhando com juventude numa perspectiva de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Em 2002 a gente começou um projeto muito interessante, um projeto de fotografia que começou de forma muito precária. Então o Jânio Cerqueira começou a dar aula de audiovisual, os meninos começaram a se empolgar e a gente fez uma exposição. O nosso bairro foi muito estigmatizado por conta do que ficou conhecido
como Chacina do Pantanal. Então os jovens aqui naquela época tinham a preocupação de colocar pra fora a boa imagem que também existe dentro da comunidade. Aqui continua tendo o que toda comunidade tem, são crimes, problemas sociais, mas também há cidadãos de bem e coisas boas de uma comunidade. Depois disso, a gente fez um projeto chamado "Multiplicadores da Imagem" que culminou com a produção de alguns vídeos e a gente sentia a necessidade de passar esses vídeos em algum lugar. Foi aí que surgiu o nome TV
Janela. A partir 2003 a TV começou a ser exibida ininterruptamente na segunda metade do ano e aí nós começamos a fazer uma programação, uma grade pra essa tv pra exibir nos meios das ruas da comunidade, e foi surgindo o que a gente começou a chamar de quadros. Ao longo do tempo a gente foi se aperfeiçoando também.


Então os jovens aqui naquela época tinham a preocupação de colocar pra fora a boa imagem que também existe dentro da comunidade. Aqui continua tendo o que toda comunidade tem, são crimes, problemas sociais, mas também há cidadãos de bem e coisas boas de uma comunidade.


Roberta: Valdenor, de quem foi a ideia inicial mesmo, o nome... você, inclusive, foi um dos precursores do projeto, não é?
Valdenor: A gente foi conversando e surgiu esse nome. Surgiu entre eu e o Ivo Souza, que veio do Instituto Nosso Chão. Nós dois fomos trabalhando com todo mundo e esse nome foi surgindo: TV Janela.


William: Como é feita a escolha dos locais onde são feitos os programas? Vocês sempre variam os locais de exibição pela comunidade? 


Valdenor: A gente procura os pontos de mais movimento da comunidade. Naquela época que houve a fundação, a gente começou a fazer uma programação quinzenal de exibição, mas não funcionou muito bem a porque a qualidade não ia sair muito boa. A média de exibição que ficou foi de 2 em 2 meses, para melhor se produzir pra ter uma qualidade mais aceitável. Ao longo do tempo fizemos uma experimentação de como as coisas iam funcionando aqui dentro. Foi quando a gente criou a história dos 4 Ps pra todo mundo entender como funciona a TV Janela: o primeiro P é a pré-produção; o segundo P é a produção; o terceiro P é a pós-
produção; e o quarto P é a projeção. A exibição da tv janela não é só nas ruas da comunidade, só aqui, mas ela já extrapolou essa esfera. Ela já está na internet, na escola, pessoas já estão exibindo em trabalhos colégios, baixando na internet. 


Roberta: Qual é o público da TV Janela?
Valdenor: O projeto se destina a adolescentes e jovens em que a gente trabalha a capacitação na área do audiovisual e da informática para que eles comecem a produzir. 


William: Valdenor, no início, como foi a receptividade, por parte dos moradores, do projeto TV Janela?
Valdenor: Foi uma receptividade até que nos impressionou, porque quando a gente começou a exibir, as pessoas começaram a se ver.De todas as exibições que nós fizemos, nós sempre procuramos colocar coisas positivas da comunidade. Eu acho que isso faz com que as pessoas se sintam atraídas pela coisa. É é tanto que quando começa a demorar a exibição o pessoal começa a cobrar. A gente percebe que realmente faz parte da programação local. 


Bárbara: Quais mudanças são vistas desde 2003, quando começou o projeto aqui no bairro? 
Valdenor: Olha, a gente começou sem pretensão de reivindicar nada. Quando a gente começou, a gente não tinha essa idéia de que a TV Janela fosse um veiculo de ligação entre as autoridades e a comunidade, mas ela se tornou isso ao longo do tempo. O objetivo da gente é fazer a crítica das necessidades, das reivindicações da comunidade, e esse benefício, quando ele vem, a gente quer mostrar também, porque é importante verificar que é uma conquista da comunidade.


O objetivo da gente é fazer a crítica das necessidades, das reivindicações da comunidade, e esse benefício, quando ele vem, a gente quer mostrar também, porque é importante verificar que é uma conquista da comunidade.


Roberta: A gente gostaria de saber um pouco dessa dinâmica das oficinas...
Valdenor: A gente foi aprendendo aos poucos, com a prática. De início, a gente começou com oficinas em que a gente tentava dar um pouco de teoria do audiovisual, depois a gente foi mudando isso, e puxando mais pro lado da prática, e isso funcionou. A formação básica é de seis meses. Depois desse período, eles começam a participar das produções da TV Janela, no Jornal Janela. As oficinas que abordam desde o que é a TV Janela, como é que funciona, até oficinas de câmera de vídeo, edição não-linear, a questão da prática de trabalhar o som, a entrevista, o texto, voltado um pouquinho pro Jornalismo, que a gente chama de
Jornalismo Comunitário, sem muita pretensão de querer ser uma Universidade, A gente faz isso no sentido de motivar os meninos, não com o intuito de que eles vão ser jornalistas, sem essa obrigatoriedade.


William: Como acontece a oficina de cidadania?
Valdenor: No começo, eram abordados temas do cotidiano da juventude. Depois observamos que poderíamos abordar essa cidadania nos temas que a gente ia fazer as matérias, e ir atrás da reivindicação da comunidade. Como as exibições são temáticas, a gente procura sempre temas que envolvam essa cidadania, pra que o jovem possa se envolver. Mas como a entidade ela também é de assistência social, a gente não deixa de abordar cidadania com palestras. 


Bárbara: Na escolha profissional dos jovens que participam, como você acha que a TV Janela
atua?
Valdenor: A gente tenta mostrar para eles a importância dessa área, que é uma área muito importante, mas às vezes eles têm muitas dificuldades. E até mais empregos em outras áreas. E a gente não vai também forçar esse adolescente/jovem a seguir a área do audiovisual. A gente quer que ele leve daqui o aprendizado que ele teve, pode ser em qualquer outra área da vida. Isso é o que eu acho que é importante: essa forma de pensar,
de se relacionar, de trabalhar em equipe pra que eles se valorizarem como pessoas. As experiências os ajudam na questão de relacionamentos, da oralidade, e do texto também. 


William: Valdenor, atualmente, quantos jovens sfazem parte da TV Janela?
Valdenor: Nós temos vinte jovens que são contemplados. Como a capacitação é na média de seis meses a um ano, a média anual dá uns quarenta jovens. Mas esse número pode variar também, porque vai depender do desenvolvimento de cada jovem.


William: Na sua opinião, qual o papel da mídia quando nós nos referimos à cidadania e ao protagonismo juvenil?
Valdenor – Eu acho que o papel da mídia tem que ser o de acrescentar algo bom na vida das pessoas. Esse é o grande papel. Acrescentando isso, com certeza essas pessoas vão ser melhores, propagar as coisas boas.

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