Entrevista com Vânia Correia - TV Janela


O blog do Palavras de Liberdade realizou uma entrevista com a jornalista e educomunicadora de São Paulo Vânia Aparecida Correia, 27. Ela é uma das responsáveis pela ONG Viração. O projeto, que já tem oito anos de existência, realiza trabalhos em São Paulo e no Brasil. A jornalista começou a contribuir com a ONG quando ainda era estudante de Comunicação e, logo após formar-se, continuou trabalhando no projeto. Além disso, Vânia relata que sempre esteve presente nela o desejo de trabalhar com Educomunicação e com Juventude.
A relação de Vânia com a Comunicação sempre rumou no sentido contrário ao da Grande Mídia, pois sempre defendeu a democratização dos meios de Comunicação. Foi esse interesse na Comunicação como meio de proliferação de ideais sociais que a levou à Viração. Um dos pontos ressaltados por nossa entrevistada Vânia fala ainda sobre o que a própria ONG gosta de chamar “carro-chefe”: A revista Viração. A publicação possui cerca de onze mil assinaturas distribuídas em diversas bibliotecas públicas do Brasil. Outro ponto destacado pela educomunicadora é a realização do 2º Congresso Nacional de Juventude, onde
serão discutidas políticas públicas para o jovem no Brasil.
No próximo dia 20, Vânia estará presente na UFC para participar do ciclo sobre JUVENTUDE E COMUNICAÇÃO, primeiro da série de cinco ciclos da ação PALAVRAS DE LIBERDADE.


Entrevista: João Marcelo Sena
Edição: Mariana Freire


João Marcelo Sena: Vânia, eu gostaria de começar perguntando a respeito do projeto Viração. Fale um pouco sobre o surgimento e qual a proposta da revista?
Vânia Correia: A Viração surgiu em 2003. O fundador e idealizador do projeto foi o Paulo Lima. A idéia inicial era fazer uma revista para o publico jovem produzida também por jovens, dando espaço para que a juventude pudesse também falar das suas pautas do jeito que ela quer e sobre ela mesma e do jeito que ela se vê. É isso que ela tem de mais inovador, todas as revistas que a gente tinha, pelo menos na época, para o segmento juvenil eram produzidas por pessoas adultas, destinadas para o público jovem, mas que eram profissionais. A Viração avança no sentido de dar voz para o próprio jovem falar de si mesmo, seja ele profissional ou não da Comunicação.


JMS: E como você começou o trabalho na Viração? O que despertou em você como profissional jornalista?
VC: Eu estou na Viração há dois anos e meio, e antes de entrar na faculdade de Comunicação eu já conhecia o projeto. E sempre gostei muito, justamente por achar que era um projeto inovador. A minha militância no meio social sempre foi vinculada à juventude, e quando eu comecei a estudar Comunicação eu quis que essas duas áreas se encontrassem. Desde a faculdade o meu desejo era trabalhar com mídia alternativa pela democratização dosmeios de comunicação. Eu entrei aqui fazendo estágio em Jornalismo com um projeto de
Educomunicação. Daí, fui descobrindo que a Viração era muito mais que a revista, que ela na verdade é o resultado de todo um processo educomunicativo. Eu fui cada vez me apaixonando mais.


“A minha militância no meio social sempre foi vinculada à juventude, e quando eu comecei aestudar Comunicação eu quis que essas duas áreas se encontrassem.”


JMS: Gostaria que você contasse um pouco de suas experiências e do trabalho com jovens, tendo em vista que a Viração está presente em muitos estados do país.
VC: A Viração está presente em 22 estados, mais o Distrito Federal. Nesses estados temos os conselhos Virajovem, que são adolescentes e jovens que se organizam, pensam pautas, discutem Comunicação e também produzem material para a revista. Além disso, eles participam de agências jovens de notícias pelo Brasil todo. Um dos momentos mais fortes da revista e dos conselhos do país todo foi a 1ª Conferência Nacional de Juventude. Lá aconteceu o Encontro Nacional dos Conselhos Virajovem, onde eles se encontraram, conversaram também sobre a Viração, sobre a constituição deles como rede e eles puderam montar uma agência nacional de notícias. Acho que esses espaços que eles têm de Agência Jovem de Notícia e os Encontros Nacionais que a gente tem anualmente são os momentos mais ricos e de muita troca de
experiência. São jovens que vivem experiências muito diversas, que têm condições de vida muito diferentes, mas que têm o desejo transversal de se comunicar e de falar das coisas que eles tão fazendo, as coisas que eles tão dizendo e poder dar visibilidade pra isso por meio da produção de Comunicação.


JMS: Foi aprovada recentemente a realização da 2ª Conferência de Juventude. Gostaria que você falasse um pouco do papel da Viração nessa Conferência, ressaltando a importância dessa conferência. 
VC: Acho a segunda conferência fundamental. Os movimentos juvenis brigaram e insistiram bastante na importância de se realizar a segunda conferência porque a primeira tinha como lema “Levante a sua Bandeira”, então foi um momento em que a pauta da juventude ainda era muito incipiente no país. Foi nesse momento que os movimentos organizados Brasil afora levantaram e disseram o que a juventude estava entendendo como direito dela e o que ela estava pautando como demanda para as políticas públicas. A gente teve uns dois ou três anos para que fossem implementadas algumas das prioridades que foram tiradas dessa primeira Conferência. A segunda conferência tem um papel importante de avançar na consolidação de
uma Política Nacional de Juventude, tem um papel primeiro de avaliar o que o Brasil avançou da primeira conferência pra cá em termos das políticas públicas de juventude. Um segundo ponto muito importante dessa segunda conferência é a proposta de avançar nos marcos legais também, no Plano Nacional de Juventude e no Estatuto [da Criança e do Adolescente]. E aí de fato o Brasil caminhar pra uma consolidação de uma política de juventude que seja uma política de Estado, independente de Governo. Eu acho que a 2ª
Conferência da Juventude vem com esse papel muito forte de avaliar o que a gente caminhou, entender pra onde a gente precisa ir e de lançar perspectivas das demandas para um ato legal de juventude no País. A Comunicação foi um tema que surgiu muito pouco na primeira conferência: das 22 prioridades tiradas, nenhuma se relacionava à Comunicação. O debate de Comunicação como um direito humano é um debate que está se fortalecendo no Brasil de uns anos pra cá. A gente tem esse papel importante de pautar
politicamente o direito humano a comunicação, de incentivo, de financiamento, a produção juvenil de comunicação, de marcos legais também na área da comunicação, entendendo que a Comunicação também é um espaço para que a juventude levante as suas demandas, e também para que ela conquiste direitos, dê visibilidades para suas bandeiras. E outro fator importante que a gente quer contribuir também é com a cobertura nacional desse evento para que as pessoas saibam durante todo o processo da Conferência o quê está acontecendo nos estados para que seja um elemento mobilizador e informativo para a juventude do Brasil. 


“A gente vê adolescentes e jovens usando e se apropriando de metodologias de Comunicação,de Educomunicação para mobilizar suas comunidades, para articular pessoas em torno dadefesa dos direitos.”


JMS: Quais são os projetos já realizados pela Viração e quais são os projetos futuros da ONG?
VC: O principal projeto da Viração, nosso carro-chefe, é a revista, porque ela sistematiza um pouco todo o processo educomunicativo que a gente vive. Um grande feito que a gente teve esse ano é que a gente foi aprovado em um edital do MEC de publicações e a gente tem 11.000 assinaturas dela que vão pra todos os pontos de cultura e bibliotecas públicas do país. A gente tem um potencial de leitores muito grande, então a gente continua investindo muita energia para transformá-la cada vez mais num espaço legitimo em que o jovem se sinta contemplado e que ele goste da revista. Outro projeto nosso é a Agência Jovem de Notícias
que tem um portal que entrará no ar dentro de alguns dias,. A ideia é que esse portal seja totalmente colaborativo, onde os jovens do Brasil todo vão poder enviar notícias, postar e se informar sobre o que acontece relacionado à juventude no Brasil e no Mundo. A gente tem alguns projetos que são mais pontuais que acontecem somente em São Paulo. Um deles é uma parceria com o UNICEF: a Plataforma de Centros Urbanos, onde a gente dá formação em Educomunicação e Comunicação Comunitária para cerca de cem
adolescentes de diversas comunidades populares de São Paulo. Outro projeto temos é em parceria com a UNESCO: o Programa Segurança Humana, que é um programa realizado por várias agências da ONU no Brasil e acontece na região Leste de São Paulo. Lá também a gente aplica formação Educomunicativa em ferramentas e mídias para adolescentes de mais de 30 escolas municipais, para que eles também usem essas ferramentas para dar visibilidade para o tema de educação preventiva em sexualidade, que é o principal tema do programa. A gente tem também o “Quarto Mundo na TV” que é um programa de TV que vai ao ar no canal da TV USP, em rede nacional. Ele ganhou no ano passado o prêmio de melhor programa de TV
universitária, sendo tudo feito por adolescentes e jovens. Eles aprendem todo o processo de produção dos programas de TV: eles entendem, participam, entrevistam, criam a pauta. É um programa totalmente produzido por jovens com a assessoria da Viração e da TV USP. Há o projeto “Pira na Notícia”, dentre outros projetos com assessorias pontuais em Educomunicação em São Paulo. Para 2011, o que a gente espera é fortalecer cada vez mais a pauta da Juventude e Comunicação no Brasil e continuar dando visibilidade para o debate da juventude e da adolescência, construindo cada vez mais espaços ara que a juventude possa produzir e possa dar espaço para que ela fale e levante suas bandeiras. A gente também está num momento de aumentar a participação da Viração no mundo, porque existem alguns pontos de articulação na Europa e na África. De repente vamos pensar como a gente articula adolescentes e jovens
que estão pelo mundo fazendo coisas legais também, como que a gente dá visibilidade para isso e faz essa articulação.


JMS: Para encerrar, qual sua opinião a respeito da importância do trabalho com Educomunicação e Mobilização Social?
VC: A partir do que eu tenho experimentado aqui na Viração, isso é fundamental porque primeiro a gente tem a oportunidade, na Educomunicação, de construção muito mais coletiva, muito mais humana, muito mais participativa e também a possibilidade de produzir materiais e construir metodologias para fortalecer a luta social. A gente vê adolescentes e jovens usando e se apropriando de metodologias de Comunicação, de Educomunicação para mobilizar suas comunidades, para articular pessoas em torno da defesa dos direitos. Eu acho que são duas coisas que se casam muito bem. A gente acha que o movimento dos Virajovens pelo Brasil tem provado isso. Além disso, há a importância de, por meio da Educomunicação, despertar uma leitura crítica dos meios de comunicação. A partir do momento que o jovem pode começar a questionar
aquilo que ele vê, da imagem dele próprio que é reproduzida nos meios de comunicação, acho que também pode despertar o desejo dele de produzir alguma coisa diferente. É um reconhecimento da Comunicação também enquanto um direito, não só o direito de receber informações, mas também como o de produzir e difundir informações. Acho que a toda prática da Viração tem provado que a Educomunicação é uma ferramenta, um processo muito importante para mobilização juvenil, no nosso caso especifico da juventude e da adolescência no Brasil.
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