Consciência seletiva

Por que reciclar é tão difícil?
Por Roberta Souza


Panfletos no trânsito, latinhas de refrigerante na cantina, pacote de biscoito e embalagens de guloseimas são alguns exemplos do que a população está cotidianamente utilizando e direcionando para as ruas da cidade. Seria essa uma postura instintiva ou haveria solução para esse problema? E a Coleta Seletiva, não ajudaria? A questão é: Quem não está cumprindo seu dever?

Consumir, consumir e consumir

“A pessoa se identifica como cidadã a partir do momento em que ela se vê capaz de comprar e descartar. As referências de quem sou eu estão diretamente relacionadas às referências desse momento hegemônico de participação no mundo capitalista”, afirma a psicóloga ambiental Vanessa Louise Batista. Ela explica ainda que, inserida nesse contexto, a população é capaz de assumir posturas contraditórias, dividida entre o desejo e a consciência de preservação.
Segundo Vanessa, os meios de comunicação acabam atuando como instrumentos dessa lógica de consumo, sem quase nunca refletir ou criticar esse processo, o que pode ser observado nos anúncios publicitários que incitam o poder da compra para quem a exerce. “Ter uma autocrítica para manter uma direção da construção de uma identidade mais livre e criar alternativas para a construção de um mundo menos totalitário dominado por essa forma de consumo, seriam algumas soluções”, completa a psicóloga.

O que fazer com os resíduos?

Fortaleza é a terceira capital brasileira que mais produz resíduos sólidos, com 1,3 quilo diário por habitante. A cidade ficou atrás apenas de Brasília (2,4kg/habitante/dia) e de Manaus (1,5kg/habitante/dia) entre as capitais destacadas pelo Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, divulgado pelo Ministério das Cidades, com dados referentes ao ano de 2009.
Visando atenuar esses dados, a capital cearense conta com iniciativas como a do Projeto Vida, dirigido pelo LOCUS (Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental) da Universidade Federal do Ceará. Em 2009, a partir de observações feitas pelo grupo, da necessidade de preservarem-se as áreas verdes do Campus do Benfica como espaço social simbólico, iniciou-se uma campanha de coleta seletiva. Em parceria com o Instituto de Formação Empreendedora e Educação Permanente (IFEE) e o PROGERE (Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos), outro programa de extensão da UFC, o Projeto Vida garantiu a implantação das lixeiras nos Centros de Humanidades 1,2 e 3.

Lei é lei?

A iniciativa dos professores e estudantes da instituição federal está em concordância com a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos - que trata da destinação adequada dos resíduos no país, sancionada pelo ex-presidente Lula. De acordo com ela, as repartições federais têm por obrigação realizar a coleta seletiva, estendendo essa ação para a população em geral.
A coordenadora do LOCUS e do Projeto Vida do curso de Psicologia, Dra. Zulmira Bonfim, revela alguns problemas na aplicabilidade da coleta no Campus da UFC. “Como todo processo de conscientização, é difícil acontecer de uma hora pra outra. Hoje as lixeiras estão aí, e a função que era de separar não está acontecendo.” Segundo ela, o destino do lixo para as organizações de catadores da cidade só teria sido viabilizada pelas instâncias da Universidade durante os seis meses finais de 2009, estando até hoje comprometida. “Nossa ideia é retomar o projeto. Fazer outra vez a sensibilização dos alunos, e depois ver também como a Universidade continua dirigindo esse processo”.
Assim, enfatiza a necessidade da cooperação coletiva, afirmando que “a consciência do cidadão, a motivação, a relação desse cidadão com o lugar, a gestão pública, as oportunidades que são criadas, tudo isso junto vai proporcionar uma ação concreta de mudança de comportamento responsável”.

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