De onde vem o medo: Violência Urbana e Comunicação no último debate do Palavras de Liberdade

Após quatro ciclos de debates que trouxeram à tona a relação entre os Direitos Humanos e a Comunicação, o Palavras de Liberdade, ação promovida pela Liga Experimental de Comunicação, discute Violência Urbana e Comunicação, hoje (30/11), às 18h, no Auditório Rachel de Queiroz.

Conheça agora os nossos debatedores:

Sociedade Civil I
Atendendo pelo nome de Givanildo Manoel da Silva, ou, simplesmente, Giva, o educador popular paulista atua no movimento Tribunal Popular: o estado brasileiro no banco dos réus.

A aproximação com a temática da violência deu-se em 1989, a partir de discussões acerca dos direitos de crianças e adolescentes. Sua atuação teve início na região do Campo Limpo, em São Paulo. “Desde então, tem sido um debate permanente que tem perseguido a minha militância”, conta ele.

Giva participou da concepção da proposta do Tribunal Popular, que surge no bojo das discussões sobre a criminalização de crianças e adolescentes e o papel do Estado nesse contexto.

Ele acredita que “a comunicação pode contribuir na discussão do enfrentamento da violência praticada contra o povo”. E argumenta: “penso que o caminho é colocar a violência não como causa em si, mas resultado de um processo, (...) o maior propositor da violência tem sido o Estado. Trabalhar essa questão com o devido cuidado precisa ser o papel da comunicação.”


Sociedade Civil II
Del Teixeira é integrante da Central Única das Favelas (CUFA) há sete anos, quando fundou a base CUFA Lagamar, e é coordenador estadual da Central há dois anos. É também graduando do curso de Direito.

Desde jovem, participa de movimentos de combate ao envolvimento de crianças e adolescentes com a violência urbana. Foi ao conhecer Preto Zé, atual presidente nacional da CUFA, que, convidado a ingressar na Central, criou a base Lagamar.

De acordo com Del, a cobertura midiática hoje é muito mercadológica e não incentiva a sociedade a questionar. “Você toma café, almoça e janta vendo sangue”, comenta. Essa banalização da violência, segundo ele, acaba atingindo crianças e adolescentes e eles passam a ver a violência como algo normal.

A cobertura midiática, segundo o coordenador, também estimula o medo da sociedade, mesmo que nem sempre haja certeza do que está sendo veiculado. “Hoje você tem medo do outro, medo do vizinho, medo da escola, medo de tudo que cerca você.”


Mídia
Tiago Braga é repórter do caderno de Cotidiano do jornal O Povo desde agosto de 2010. Formado pela UFC, antes de trabalhar no jornal O Povo, foi produtor da TV Cidade e da TV Ceará. É sua primeira experiência na área de segurança pública.

A aproximação com o tema foi gradativa, iniciada com grandes reportagens relacionadas ao tema, como assaltos a bancos. “Na época de faculdade eu não me imaginava nessa área. Aceitei como um desafio”, diz Tiago Braga.

Ir além do factual é, segundo Tiago, o diferencial que a cobertura de segurança pública deve ter na mídia. É necessário que se saiba contextualizar o assunto tratado, já que a simples narração dos fatos pode provocar apenas medo nas pessoas. 

Para ele, a cobertura da mídia sobre o tema deve ser sobretudo cuidadosa. “Nós temos que noticiar o fato, o que aconteceu, mas temos que ter cuidado com o destaque e a maneira como abordamos esse assunto para que não acabe gerando mais violência”, conclui.


Academia
Igor Monteiro é doutorando em Sociologia na Universidade Federal do Ceará e faz parte do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da mesma instituição.

Sua aproximação à temática da violência veio a partir de sua pesquisa de mestrado, quando analisou o filme Abril Despedaçado, de Walter Sales. “A idéia era transformar o filme num campo de investigação socio-antropológica. (...) Essa violência [vista no filme] é um grande exemplo para se pensar a ordem, a positividade da violência, no sentido da estruturação de um local”, explica Igor.

Junto à pesquisa, veio o envolvimento com o LEV: “surgiu um convite para participar de algumas reuniões e eu fui ficando, me engajando nas pesquisas e estou até hoje.” Ao falar das contribuições do Laboratório nas discussões sobre violência, Igor afirma que “ele busca complexificar esse fenômeno e aí, talvez, a maior riqueza dele [do laboratório] seja não trabalhar no sentido desses reducionismos.”

Igor entende a mídia como um espaço que tanto pode contribuir na estigmatização de certos bairros – tidos como violentos – quanto na contra-estigmatização destes mesmos bairros. “Quando ela [a mídia] também passa a mostrar as ações feitas nesses lugares, ela também pode contribuir para diluir essa imagem do estigmatizado”, argumenta.
 
 

 

  

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